Nem sempre verificada, bem escrita ou imparcial. Em tempos que a facilidade de publicar a notícia falsa se torna uma arma na mão de diversas pessoas, é necessário descobrirmos como desvendar as famosas Fake News.
Em uma crise política, econômica, social, e até mesmo caos na saúde, a guerra do que é verdade e do que é mentira se torna necessário para a população. E quais as razões que podem explicar essas disseminações?
- Assista a websérie “Em 2 Minutos “ e fique por dentro dos temas que estão causando desinformação completa.
1. Influência da mídia
“Dizem que em uma guerra a primeira que morre é a verdade”. É assim que Belini Meurer, cientista político, responde quando perguntado se o cenário atual é propício para a divulgação de notícias falsas.
Ele ainda explica que há uma diferença entre construir a notícia falsa, ter opinião ou defender ideologias. Ainda acusa os assessores políticos, por exemplo, de criarem o mal-entendido.
“Não esperem que assessores desse ou candidato candidato desfaçam mal-entendidos, são eles que o fazem. São eles os alimentadores primários das desavenças .”
O que Belini Meurer apresenta difere da posição de Lilian Amaral. A assessora de imprensa, com experiência no Ministério do Esporte e que exerce na campanha de reeleição, em 2014, da então presidente Dilma Rousseff, defende que uma notícia falsa nunca deve ser considerada algo positivo, nem se favorecer ao candidato.
Quando perguntada se é dever da assessoria esclarecer ou desmentir a notícia falsa, Lilian afirma que “seria uma excelente oportunidade, inclusive, para mostrar o candidato como alguém que respeita a verdade e os eleitores”.
Lílian é taxativa em dizer que não só notícias falsas, mas como verdadeiras também podem impactar uma campanha. “Esse é um poder que a mídia ainda tem. Quantas vezes ouvimos alguém comentar ‘vi no jornal’, para justificar algo como verdadeiro. Os jornalistas criaram esse quarto poder.”
“O que não contavam é que as novas mídias não necessariamente obediam as regras do jornalismo tradicional. ”
Em 2016, o mundo conheceu de perto o quão poderosas e impactantes são as notícias falsas. O atual presidente da maior potência mundial, Donald Trump, foi eleito com um discurso controverso.
Um dos jornais mais respeitados do mundo, The New York Times, fez um compilado de vezes que Trump mentiu. Intitulado de “ Trump’s Lies ” ( em tradução livre para o português, ‘Mentiras de Trump’ ), mostra que desde quando assumiu a presidência, em janeiro de 2017, o americano mentiu em seis de cada dez dias de governo.
É evidente que as regras do jogo mudaram. O público consome as notícias de uma maneira nova e o modo de fazer o marketing no meio do furacão de notícias falsas e verdadeiras também precisa ser reinventado.
“Se as notícias falsas fazem pauta nos jornais e televisão, isso significa que a mídia tradicional está conivente com o estado de coisas que estão aí. O que se vê nos dias é uma imprensa acuada ou conivente com tudo isso ”, crítica Belini Meurer.
No entanto, de nada adianta se o público não seleciona as mídias que consome. De acordo com Belini, as pessoas que possuem percepção, que leem e possuem algum tipo de instrução tem o dever denunciar as notícias falsas e menos impacto que elas causam. “É preciso tomar posição diante dos fatos e agir”.
A democratização do acesso à informação tornado qualquer cenário propício para notícias falsas, segundo Lílian. “A agilidade com que a informação circula e a necessidade de estar por dentro do assunto de ‘destaque’ faz com que as pessoas tenham pressa e confiança nas informações que fornecem e compartilham” comenta a assessora.
Além disso, Lílian também cita a teoria do “Agendamento” ou em inglês “Agenda-setting” que defende o tema das conversas cotidianas que é ditado pelas principais pautas dos jornais.
Para ela, cabe uma população aprender uma nova forma de ler e se informar. “A população não foi ‘treinada’ para checar fonte, fatos, verificar os lados da história. Até bem pouco tempo, essa função era de quem comunicava a notícia ”analisa. No entanto, Lilian é otimista.
“O simples fato de se falar mais sobre ‘notícias falsas’, dos principais jornais e portais disponibilizar ferramentas para checar notícias já é um avanço importante para combater as notícias falsas.”
Já Belini faz um apelo “professores, jornalistas, cientistas, artistas, escritores e poetas precisam tomar posição e agirem diante do que está ocorrendo no Brasil e dian te do que vai acontecer se continuarmos por este rumo”.
2. O viés de confirmação
Além de ter a necessidade de saber informações verdadeiras, existem outras motivações implícitas que levam as pessoas a tentarem confirmar suas crenças. Então, as mensagens que satisfazem suas motivações serão tidas como verdadeiras, mesmo se forem falsas.
Isso acontece por causa de uma distorção, chamada de viés de confirmação, que é a tendência de buscar evidências ou fatos (ou mesmo opiniões) que apoiem o que você já acredita ser verdade. Muitas vezes isso é acompanhado por uma cegueira para a informação oposta.
O viés da confirmação é formado no início da vida, quando a criança aprende a distinguir entre fantasia e realidade. Durante a infância, os pais incentivam as crianças a acreditar em “brincadeiras” por ajudar os jovens a lidar com a realidade e a assimilar as normas sociais. No entanto, a desvantagem é que elas aprendem que a fantasia às vezes é aceitável.
Quando se tornam adolescentes, elas desenvolvem suas próprias habilidades de pensamento crítico e começam a questionar seus pais ou outras figuras de autoridade. No entanto, por ir contra as reflexões que levaram como certas durante anos, o rompimento com o conhecido pode gerar desconforto.
É aí que entram as racionalizações preconceituosas. Para evitar conflitos e ansiedade, as pessoas desenvolvem mecanismos de enfrentamento, como o viés de confirmação; já que desafiar as falsas crenças pode causar conflitos, alguns aprendem a racionalizar e aceitar as falsidades.
A mestra e doutoranda em Psicologia Social, Sibele Aquino, explica que as notícias falsas, com seu fácil acesso e rápida disseminação, favorece as pessoas que são obcecadas por conhecimento.
“Todos temos implementados que nos permitem julgar de maneira rápida, e isso é o que acontece também em períodos de crescimento rápido de informações: mensagens simples e disponíveis são mais passíveis de acreditar e aceitar sem exames minuciosos”.
3. Poder de viralização das notícias falsas no WhatsApp
Voltamos um pouco no tempo e daremos o exemplo das eleições de 2018. Fim do primeiro turno, as urnas já foram apuradas e todos já sabem o resultado, assim como os candidatos que farão parte do segundo turno.
Porém, no Whatsapp, uma nova notificação aparece: “TSE informa: 7,2 milhões de votos anulados pelas urnas!”. Alguns minutos depois, outra notificação com a mesma mensagem, solicitando para que a corrente não se quebre.
“Se você enviar para 20 contatos em um minuto, o Brasil inteiro vai desmascarar este bandido. NÃO quebre esta corrente ”.
Em menos de uma hora, essa mensagem circulou pela rede social – O que essas pessoas não fizeram foi checar a informação de que o próprio TSE desmentiu no mesmo dia, mas mesmo assim foi dividido. Nessas condições, o que torna o Whatsapp um dos maiores divulgadores de conteúdo do mundo?
Gabriel Vinícius, 27, usa o Whatsapp com frequência, e recebeu a corrente que nomeia o TSE. Por já ter caído em fake news antes, ele procurou checar essa informação. “Na verdade, já duvidei na hora que li que precisava mandar para 20 pessoas, o que é bizarro. Mas como já caí numa fake news antes, decidi pesquisar se a parte sobre o TSE era verdade, e na hora que vi que não era, avisei a pessoa que enviou”, disse.
“Não é tão difícil identificar, o problema é que atualmente as fake news estão em todo o lugar, inclusive nas propagandas políticas, então é bem fácil uma pessoa ser enganada.”
A doutora em antropologia, Maria Elisa Máximo, afirma que as falas circulam mais pelo whatsapp porque elas são produzidas para esse meio de comunicação. Para essa fake dar certo, Elisa diz que ela deve ter um “efeito pílula”, algo que seja imediato, por isso é sempre usado manchetes sensacionalistas.
Muitas vezes nem é lido todo o conteúdo, apenas pelo título eles já tiram suas próprias propriedades e se espalham como um vírus. Apesar de existir todo tipo de boatos e notícias falsas, elas são espalhadas por um tipo específico de grupos e pessoas.
Em meio a pandemia do coronavírus, o WhatsApp passou a limitar o encaminhamento de mensagens para apenas um contato. Em busca frear a disseminação de fake news, as regras foram impostas desde abril de 2020.
4. Disseminar Fake News é CRIME
O assunto é regulado pela parte relativa à internet na resolução que disciplina a propaganda eleitoral como um todo (Resolução 23.551/2017). Pela norma, quem divulgar “fatos sabidamente inverídicos” está sujeito a ser obrigado a retirar o conteúdo do ar, mediante decisão judicial.
De acordo com o promotor de justiça Lean Matheus de Xerez, ter um controle sobre as notícias falsas em redes sociais é difícil por causa da rapidez em que as notícias se espalham, mas afirma ser possível responsabilizar as pessoas e aplicar multas pelo crime de calúnia, injúria e difamação .
No âmbito da justiça eleitoral, os crimes praticados são de ação penal incondicionada. Segundo Xerez, caso é o Ministério Público que denuncia e conduz todo o procedimento.
5. Passo a Passo da identificação
Com o crescente número de conteúdos rodeando as pessoas, a principal dificuldade é identificar quais notícias são falsas ou não. Disfarçadas de informações verídicas, que aparentam estar apoiadas em apuração profissional e dados científicos, como reportagens jornalísticas ou pesquisas acadêmicas, como notícias falsas muitas vezes se alimentam de sua própria indefinição para se proliferar.
Siga estas dicas:
1) Leia a notícia inteira, não apenas seu título
2) Cheque a fonte e a autoria da notícia
3) Digite o título da notícia recebida em buscador como o Google
4) Destrinche os fatos da notícia e tente checá-los individualmente
5) Se for uma imagem, faça uma busca reversa por ela no Google (é mais fácil do que parece)
6) É um áudio ou um vídeo? Resuma o acontecimento e faça uma pesquisa no buscador
7) Pergunte à pessoa que encaminhou a notícia de quem ela recebeu e se essa pessoa conseguiu verificar a informação
Por último, não compartilhe se não estiver certeza de que a notícia é verdadeira.
EXPEDIENTE
– Reportagem: alunos e alunas da 4a fase do curso de Jornalismo
Amanda dos Santos, Ana Carla Rubi, Bruna Alves, Bruna Coelho, Bruna Milany, Catherine Kuehl, Emilly Huida, Gabriela Puccini, Giovana Barros, Julia Venturi, Juliana Mews, Luana Verçosa, Maria Fernanda Benedet, Mariane Arenhart, Mayara Rosa, Rafaela França, Roger Caetano, Samantha Reinert, Sara Lins, Thalita Pires, Vinícius Pietschmann e Vitor de Mira.
– Ilustrações: Yan Nero, aluno da 6a fase do curso de Jornalismo
– Identidade Visual e conceito da Websérie: alunos e alunas da 6a fase do curso de Publicidade e Propaganda
Júlia Helena de Oliveira, Moriéme Fagundes, Felipe Guimarães e Renata Rocha
– Apresentação e Roteiro da Websérie: alunos da 8a fase e aluna da 6a fase do curso de Jornalismo
Nathan Farias, Bruno Nunes e Annabel Nascimento
– Professora responsável: Lívia Vieira
– Coordenador do curso de Jornalismo: Silvio Melatti
– Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda: Vinícios Neves
– Edição: Gabriele Abatti
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